Castelo de Lagos

Freguesia de Lagos

Castelo de Lagos
Distrito Faro
Concelho Lagos
Freguesia Lagos
Área 212,99 km²
Habitantes 31 049(2011)
Densidade 145,8 hab./km²
Gentílico Lacobrigense
Construção ( )
Reinado ( )
Estilo ( )
Conservação ( )

A primeira localidade na região de Lagos, chamada Laccobriga ou Lacóbriga, foi fundada cerca de 2000 anos antes do Nascimento de Cristo pelos cónios. Esta localidade foi subsequentemente ocupada por Cartagineses, Romanos, povos bárbaros, muçulmanos e finalmente reconquistada pelos cristãos no Século XIII.

Devido à sua localização e importância económica, Lagos tornou-se um ponto central para os Descobrimentos Portugueses, a partir do Século XV; em 1573, foi elevada a cidade pelo rei D. Sebastião, passando a ser a capital do Reino do Algarve, posição que manteve durante o Domínio Filipino. Em 1755, quando foi devastada pelo tsunami que também devastou Lisboa, a capital provisória passou para Loulé e depois para Faro onde ainda se mantém. No Século XIX, participou activamente nas Invasões Francesas e na Guerra Civil Portuguesa, tendo conseguindo retomar alguma importância económica, com a introdução das primeiras indústrias a partir de meados do século.

Após a Segunda Guerra Mundial e até aos finais do Século XX, assistiu-se a uma gradual redução da capacidade industrial e a um aumento do turismo, que se tornou na principal actividade económica no Concelho (hoje Lagos dispõe de uma vasta e diversificada oferta de alternativas de alojamento: hotéis; albergues de juventude; moradias e apartamentos turísticos; parques de campismo e autocaravanismo).

Nas últimas décadas do século XX e início de XXI a cidade mudou a um ritmo acelerado, com renovação do centro histórico e expansão da periferia. Foram criados novos bairros residenciais e equipamentos respetivos (comércio, saúde, educação, desporto...); foi levada a cabo a construção da Marina de Lagos e respetiva zona habitacional e comercial; foram criadas novas unidades hoteleiras, instalações administrativas, etc..

Antecedentes

Brasão de Lagos

A cidade de Lagos tem uma história muito antiga, tendo a primeira povoação na zona sido o castro ou cidade fortificada de Lacóbriga, fundada por volta de 1899 a.C., pelos povos cónios. O principal sítio apontado pelos arqueologistas para a localização de Lacóbriga é o Monte Molião, onde foram encontrados vestígios desde a pré-história até ao domínio romano. Na zona de Lagos foram encontrados vestígios dos povos fenícios, e gregos. A povoação foi conquistada pelos cartagineses, que mudaram a sua localização em meados do primeiro milénio a.C., para o sítio da moderna cidade de Lagos. A nova povoação recebeu, para a sua defesa, uma muralha de planta quadrangular.

A cidade foi conquistada pelas forças romanas no Século I a.C., tendo nessa altura o seu nome sido alterado para Lacobrica. O domínio romano da Lusitânia durou até meados do primeiro milénio, tendo terminado com as invasões dos povos de Leste, primeiro os Alanos e depois os visigodos.

O castelo medievalseta_baixoseta_cima

À época da Reconquista, foi inicialmente conquistada pelas forças do rei Sancho I (r. 1185–1211) em 1189. Retomada em 1191 pelas forças do Califado Almóada sob o comando do califa Iacube Almançor (r. 1184–1199) e manteve-se sob controle mouro até sua reconquista entre 1241 e 1249. Os habitantes muçulmanos fugiram para o Norte de África, tendo no entanto destruído os edifícios em Lagos antes de partirem. Apesar da reconquista ter terminado, os povos maometanos continuaram a guerra pelo oceano, atacando frequentemente Lagos e outras povoações marítimas do Algarve.

Do mesmo modo de que não dispomos de informações seguras acerca da evolução arquitectónica das defesas sob o domínio muçulmano, o mesmo ocorre para os primeiros séculos do domínio cristão. Sabe-se que as obras iniciaram-se sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), prosseguindo pelo tempo de D. Dinis (1279-1325) e de D. Afonso IV (1325-1357). D. Afonso IV ordenou a construção de uma cintura de muralhas em redor da cidade, que cobriam a área entre a Porta da Vila, a futura Igreja de Santo António, o castelo e a Porta de São Gonçalo. Uma carta de 1332 de D. Afonso IV refere que ainda estavam por concluir os muros, que nessa altura se prolongavam desde a Igreja de Santa Maria até à cadeia, nos limites da povoação.

Sobreviveram relatos da continuação dos trabalhos durante o período de D. Fernando (1367-1383). O último destes relatos foi emitido durante a Guerra dos Cem Anos, provavelmente no âmbito de uma campanha para a modernização das defesas.

Daqui partiram:

  • 1415 - a expedição portuguesa para a conquista de Ceuta, no Norte d’África;
  • 1419 – as embarcações para a descoberta da Ilha da Madeira;
  • 1427 – as embarcações para a descoberta do Arquipélago dos Açores;
  • 1434 – a embarcação de Gil Eanes que dobrou o cabo Bojador, na costa ocidental africana;
  • 1458 e 1472 – as expedições de D. Afonso V (1438-1481) para a conquista de Alcácer-Ceguer, Arzila e Tânger no Norte d’África.

Guerra da Restauração aos nossos diasseta_baixoseta_cima

Após o Domínio Filipino, a cidade de Lagos iniciou um período de decadência, o que teve efeitos negativos no aparelho defensivo, cujas obras passaram a ser principalmente de reforço das estruturas já existentes, embora tendo sido construídos alguns novos fortins na costa.

Posteriormente, a cidade e as suas defesas seriam duramente afetadas pelo maremoto que assolou o litoral algarvio em consequência do terramoto de 1755. A destruição resultante foi de tal ordem que os governos civil e militar se transferem para Tavira, menos afetada. No final do século, o centro da cidade foi transferido da antiga Praça de Armas (atual Praça Infante D. Henrique) para a Praça do Cano (atual Praça Gil Eanes) (1798).

O Sismo de 1755 devastou grande parte da cidade de Lagos, incluindo o Castelo, que nunca chegou a ser reconstruído. Relatos da época contam que as águas do oceano subiram à altura das muralhas, que ficaram totalmente destruídas nas partes em que embateu.

Na segunda metade do século XIX a cidade conheceu um surto de expansão, a partir da instalação de indústrias de conservas de pescado. Nessa fase, são alargadas a Porta de Portugal e a Porta dos Quartos bem como erguido um chafariz no Baluarte da Porta Nova (1863) e, posteriormente alargadas, a Porta do Postigo, a Porta do Cais e a Porta Nova (1888).

No Século XX, Lagos foi uma das principais cidades abrangidas pelo programa das Comemorações dos Centenários, tendo sofrido grandes obras de remodelação, incluindo o restauro das muralhas e a sua desobstrução através da demolição de edifícios anexos, e a construção de uma avenida que delineou os limites urbanos na orla costeira. Em 7 de Agosto de 1960, foi inaugurada a Avenida dos Descobrimentos, no âmbito de uma grande festa na cidade de Lagos, com a presença do almirante Américo Tomás e do presidente brasileiro, Juscelino Kubitschek, que visitaram o castelo de Lagos.

A partir da segunda metade da década de 1950, o poder público, através da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, tendo em vista as comemorações dos Centenários, procedeu uma ampla intervenção no património edificado de Lagos, demolindo edificações adossadas aos antigos muros e baluartes, reconstruindo o Paço dos Governadores, reedificando troços de muralhas e abrindo a Avenida das Descobertas, em aterro que aumentou a proteção entre a cidade e o mar.

Em 10 de Outubro de 1984, o Diário de Lisboa relatou que tinha sido assinado um acordo entre a autarquia de Lagos e o Ministério do Equipamento Social para um grande programa de reabilitação urbana do centro histórico da cidade, que incluía a construção de um anfiteatro num dos ângulos das muralhas. Nessa altura, a Direcção-Geral dos Monumentos Nacionais estava a fazer obras de recuperação parcial das muralhas e de algumas das torres, e iniciou um programa de recuperação do Castelo dos Governadores, cuja zona estava muito degradada, e que deveria durar cerca de três anos e custar vinte mil contos.

Posteriormente, continuaram as várias obras de remodelação das antigas estruturas defensivas, destacando-se a adaptação do Baluarte da Vila a um observatório astronómico.

Em 2018, a Câmara Municipal de Lagos lançou um concurso para obras de remodelação na zona nascente das muralhas de Lagos, junto ao Jardim da Constituição, e que engloba o Torreão da Ribeira, as duas torres albarrãs na Porta de São Gonçalo, a fachada Sul do Castelo dos Governadores mais o seu revelim, e o pano de muralha desde o primeiro torreão até ao Castelo dos Governadores. Esta empreitada teve o valor de 140 mil Euros, e um prazo de execução de quatro meses. Em Novembro desse ano, teve lugar em Lagos a reunião anual da associação Urban Sketchers, evento que contou com visitas comentadas a vários monumentos da cidade, incluindo as muralhas e o Castelo dos Governadores.

Em Abril de 2019, a Revista Municipal de Lagos noticiou que a autarquia tinha adjudicado mais duas intervenções nas muralhas, que consistiam namanutenção na Rua da Barroca, e na recuperação do lanço nascente das muralhas. Em finais de 2019, foi aprovado o Orçamento e Plano de Actividades para 2020 da Câmara Municipal de Lagos, sendo uma das intervenções previstas o prosseguimento das obras de conservação e valorização das muralhas da cidade.

Característicasseta_baixoseta_cima

O conjunto das defesas da cidade apresenta planta incompleta no formato de um pentágono irregular, marcado por nove baluartes de planta quadrada e/ou pentagonal e cinco vias de acesso. Diferentemente de outros conjuntos, não se localiza em posição dominante no terreno, mas sim junto à ria. Nele ocorre a interseção de duas cintas de muralhas de diferentes períodos construtivos, onde restam a:

  • Cerca Medieval, também chamada de Pano Nascente ou cerca marítima, por estar voltada para o mar, a leste. Com paredes mais espessas (c. 2 metros de largura por alturas que variam de 7,5 a 10 metros), percorrida por adarve, encimada por ameias e seteiras, desenvolve-se desde o Palácio dos Governadores (atual Hospital de Lagos) até à Porta de São Gonçalo (ladeada por duas torres albarrãs de planta quadrada) e ao Baluarte da Torre do Trem. Este troço, segue, com interrupções, para sul, até à Porta da Vila, que se abre para o lado de terra. Inclui igualmente o revelim do Castelo dos Governadores e o Torreão da Ribeira. Na Porta da Vila, inicia-se a
  • Cerca Nova ou Muralha renascentista, com características do estilo renascentista, que se desenvolve pelo lado de terra, para oeste, partindo do Baluarte de Santa Maria e prosseguindo para o Baluarte da Praça de Armas, o Baluarte da Conceição e o Baluarte da Alcaria. A partir deste último, o circuito inflete para norte, alcançando o Baluarte da Porta dos Quartos, o Baluarte de Santo Amaro e o Baluarte de São Francisco. Daqui, a muralha, com interrupções, volta-se para o lado do mar, na direção este.

Entre os baluartes sobreviventes, destaca-se o da Alcaria, que é o que está na posição mais saliente do lado ocidental, e que forma uma torre elevada quadrangular, com uma rampa de acesso às muralhas, e dois orelhões de grandes dimensões. No lado poente das muralhas, dois dos baluartes, o da Porta dos Quartos e de São Francisco, apresentam parapeitos apropriados para o uso de artilharia.

Acontecimentos da época

827 - Início da conquista da Sicília pelos Sarracenos.

839 - Expedição de Afonso II das Astúrias à região de Viseu.

987 - Revolta do conde Gonçalo Mendes que adota o título de Grand-Duque de Portucal e revolta-se contra Bermudo II e é derrotado na batalha.

1147 - Início da Segunda Cruzada.

 - Tomada de Santarém por D. Afonso Henriques.

 - Vinda do porto inglês de Dartmouth, entra na barra do Douro uma frota de 200 velas com cruzados.

 - Por proposta de D. Afonso Henriques, a armada de cruzados ingleses inicia o Cerco de Lisboa. Após 5 meses, Lisboa conquistada aos mouros pelas tropas de D. Afonso Henriques.

1148 - Alenquer foi conquistada aos mouros no dia 24 de Junho.

 - Restauração das dioceses de Lisboa, Viseu e Lamego por D. Afonso Henriques.

1158 - A Libra Esterlina torna-se na moeda de Inglaterra.

 - 24 de Junho - Conquista de Alcácer do Sal.

 - 22 de Maio - Em Sahagún, Fernando II de Leão e Sancho III de Castela concordam em unir os seus esforços para submeter D. Afonso Henriques.

1159 - Doação do Castelo de Cera a Gualdim Pais.

 - 22 de Dezembro - D. Afonso Henriques encontra-se na localidade de Santa Maria de Palo com o rei Fernando II de Leão, para resolver o problema das demarcações fronteiriças das reconquistas portuguesas e leoninas.

1160 - O Castelo de Tomar doado à Ordem dos Templários.

 - Conquista de Évora e de Beja.

 - Início da edificação da Sé de Lisboa.

1161 - Évora, Beja e Alcácer do Sal caem em poder dos Mouros.

1162 - D. Afonso Henriques reconquista Beja, que havia caído em poder dos Mouros.

1163 - Ocupação de Salamanca por D. Afonso Henriques.

1165 - Reconquista de Évora.

1166 - Tomada de Serpa e Moura por D. Afonso Henriques.

1185 - Sancho I sucede a D. Afonso Henriques como rei de Portugal.

 - Construção da Sé de Évora.

1187 - 2 de Outubro - Saladino conquista Jerusalém aos Cruzados; em resposta, o Papa Gregório VIII propõe o lançamento da Terceira Cruzada.

 - Sancho I concede foral a Viseu, Avô, Folgosinho, Bragança e Penarroias.

1189 - Sancho I passa a intitular-se Rei de Portugal e dos Algarves.

1190 - A Terceira Cruzada, comandada por Ricardo Coração de Leão e Filipe Augusto, abençoada pelo papa Gregório VIII, parte com a missão de reconquistar Jerusalém.

 - Fundação do primeiro Castelo do Louvre.

1191 - 12 de Julho - Terceira Cruzada: Os cruzados conquistam Acre, na Palestina.

 - 22 de Agosto - Terceira Cruzada: O rei Ricardo Coração de Leão manda matar 2700 prisioneiros muçulmanos.

1194 - Inti Yupanqui funda o Império Inca (Peru).

1196 - Sancho I celebra um tratado de aliança com Afonso VIII de Castela, Afonso II de Aragão e o rei de Navarra. Trava-se uma guerra entre os reinos de Portugal e Leão, concedendo o papa ao monarca português, e aos seus exércitos, as mesmas indulgências outorgadas pela Santa Sé aos que combatiam os infiéis.