Castelo de Aljezur

Freguesia de Aljezur

Castelo de Aljezur
Distrito Faro
Concelho Aljezur
Freguesia Aljezur
Área 323,50 km²
Habitantes 5 884(2011)
Densidade 18,2 hab./km²
Gentílico Aljezurense
Construção Século X
Reinado ( )
Estilo ( )
Conservação Regular

Aljezur é uma terra de origens remotas, cuja antiguidade é atestada pelos muitos vestígios arqueológicos que têm sido encontrados. O seu território é habitado desde os tempos pré-históricos.

Aljezur foi fundado no século X pelos árabes que aqui permaneceram durante cinco séculos até à conquista cristã e aqui deixaram importantes marcas tais como o castelo, a sua cisterna, a toponímia, como muitas lendas e histórias populares.

No século XIII, no reinado de Afonso III, Aljezur foi definitivamente tomada aos mouros por Paio Peres Correia. Aljezur passa a ter foral a partir de 12 de Novembro de 1280, concedido pelo Rei D. Dinis.

Em 1 de Junho de 1504, D. Manuel reformou a Carta Diplomática de D. Dinis, concedendo à vila o título de "Nobre e Honrada".

Em 1755 Aljezur foi profundamente devastada por um terramoto. O Bispo D. Francisco Gomes do Avelar mandou construir a Igreja da Nossa Senhora D'Alva em local fronteiro à vila para que os habitantes se transferissem para aquele local e para ali crescer um novo aglomerado populacional, passando a se chamar a Igreja Nova.

Com uma linha de costa muito rochosa, que por diversas vezes é interrompida por maravilhosos areais que dão nome às diversas praias. Quase todas as praias são a foz das principais ribeiras da região. Junto às praias pode-se observar as imponentes arribas , talhadas de xisto e grauvaques, de cor acentuadamente cinzenta e preta.

Antecedentes

Brasão de Aljezur

O castelo foi construído num local que permitia um bom controlo visual sobre a Ribeira de Aljezur e a sua planície, e parte da faixa costeira.

A Ribeira de Aljezur passa pelo vale de D. Sancho e depois desagua no oceano, junto à Praia da Amoreira, tendo sido um importante eixo de comunicações entre o litoral do Alentejo e o Barlavento Algarvio. Apresentou boas condições de navegabilidade até ao Século XVI, tendo sido encontrados vestígios de um porto fluvial na ribeira, na vila de Aljezur.

Durante o período romano, o local onde posteriormente foi construído o castelo poderá ter sido ocupado por um castro dos povos Lusitanos, enquanto que os próprios romanos terão instalado ali um posto de vigia. Esta função como posto de vigia terá sido retomada pelos Visigodos, entre os séculos VII e VIII.

O acesso ao edifício é feito através das ruas do Cerro do Castelo e D. Pires Paio Correia.

O castelo medievalseta_baixoseta_cima

A fundação do castelo em si só terá ocorrido no Século X, durante o período medieval islâmico, durante o qual também foi criada a povoação de Aljezur. Com efeito, as estruturas fortificadas do castelo foram identificadas como pertencendo a este perído, tal como algumas construções no seu interior. Os vestígios de cronologia muçulmana podem ser separados em duas fases distintas, sendo a primeira correspondente a várias estruturas, provavelmente de uso residencial, e das quais restaram as paredes, encimadas por taipa, e os pisos, alguns deles com lajeado. As muralhas pertencem a uma segunda fase, tendo sido provavelmente erigidas durante os princípios do segundo período do Califado Almóada, entre os Séculos XII e XIII, período em que também terão sido escavados os silos no interior do castelo. Esta fortaleza faria parte do complexo defensivo da região sob o domínio de Silves, que nessa altura compreendia a região desde Aljezur e o Sul da costa alentejana até aos modernos concelhos de Lagoa e Albufeira. A povoação de Aljezur em si poderá ter origem islâmica, atribuindo-se a sua fundação aos inícios do Século X.

Segundo a tradição, a vila foi reconquistada pelas forças cristãs em 1242 ou 1246, no dia 16 de Junho , por um destacamento da Ordem de Santiago, sob o comando de Paio Peres Correia. Com efeito, a povoação de Alvor foi tomada em 1240, e Tavira em 1242, embora a reconquista só tenha terminado em 1249, com a libertação de Silves, Faro, Albufeira e Porches. Em recompensa pelo seu papel na reconquista do Algarve, o rei D. Afonso III ofereceu Aljezur e outras localidades à Ordem de Santiago. Após a reconquista, aquele monarca terá ordenado a realização de obras no castelo, que poderão ter incuído a construção dos compartimentos junto às muralhas. Nesta altura, o castelo poderá ter tido funções principalmente do ponto de vista militar.

O castelo terá sido abandonado no período entre os finais do Século XV e os princípios do Século XVI, uma vez que perdeu importância como posto defensivo, devido ao assoreamento da Ribeira de Aljezur, que diminuiu a sua navegabilidade. Outro motivo que contribuiu para o abandono do castelo foi uma redução da importância estratégica da vila de Aljezur, e uma necessidade de defender pontos mais importantes na região do Algarve. Com efeito, os fragmentos de cerâmica que foram descobertos na parte superior do enchimento das estruturas, utilizado como lixeira, são típicas do período de transição do Século XV para o XVI.

No Século XV, o castelo já se encontrava em avançado estado de abandono, como foi relatado por uma visitação da Ordem de Santiago à vila de Aljezur, em 1448 ou 1482.

Do Século XX aos nossos diasseta_baixoseta_cima

Depois de vários séculos de abandono, as primeiras intervenções significativas no castelo só foram feitas entre 1940 e 1941, no âmbito das comemorações dos centenário do Infante D. Henrique, durante as quais foram feitas importantes obras de restauro em monumentos do Barlavento Algarvio, incluindo na Fortaleza de Sagres e na cidade de Lagos. No caso do Castelo de Aljezur, destacou-se a sua importância, principalmente devido à tradição que seria uma das fortalezas do Algarve inserida na bandeira nacional, tendo sido principalmente feitas obras de reparação nas muralhas, embora alguns lanços tenham sido bastante modificados durante o processo. Estas intervenções ficaram recordadas numa placa comemorativa, colocada junto à entrada do castelo. Em 12 de Outubro de 1956, a 1.ª Subsecção da 6.ª Secção da Junta Nacional de Educação emitiu um parecer sobre a classificação do castelo, e em 13 de Outubro desse ano o Subsecretário de Estado da Educação Nacional publicou um despacho de homologação nesse sentido. Em 19 de Setembro de 1972, a Junta Nacional de Educação opinou sobre a possível instalação de uma unidade hoteleira no castelo, tendo declarado que só autorizaria esta obra se não fosse danificado o seu interior. Em 1973 foi feito um projecto para a iluminação exterior do edifício, a pedido da autarquia, e entre 1976 e 1977 foi construída a estrada de acesso e um parque de estacionamento. O Castelo de Aljezur foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 129/77, de 29 de Setembro. Em 1981 foram colocados os sistemas de iluminação, e em 1985 foram feitos trabalhos urgentes de conservação nas muralhas.

O Decreto-lei 106F/92, de 1 de Junho, publicado no Diário da República n.º 126, Série A, consignou o monumento ao Instituto Português do Património Arquitectónico. Em 21 de Novembro de 1996 a Câmara Municipal de Aljezur emitiu o anúncio para a abertura de um concurso público, relativo ao Projecto de Reconstrução, Conservação, Consolidação e Utilização do Castelo de Aljezur, e em 29 de Setembro de 1998 a autarquia fez a apresentação pública do estudo prévio para aquele programa.

Em 1988, o Castelo de Aljezur foi alvo de trabalhos de prospecção, no âmbito de um programa de levantamento arqueológico dos concelhos de Aljezur e Monchique. Também na Década de 1980, foram feitas obras de restauro no castelo, incluindo nas muralhas, onde foi montado um muro de contenção para prevenir o desagregamento das ruínas da estrutura medieval.

Na década de 1990, o Castelo foi novamente alvo de pesquisas arqueológicas, tendo sido encontrados vestígios das Idades do Bronze e do Ferro, e dos períodos romano e islâmico. Estas pesquisas foram feitas pela Unidade de Arqueologia do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em parceria com a Câmara Municipal de Aljezur.

Em 2004, foram feitas sondagens no castelo de forma a identificar o antigo traçado da muralha, para posteriormente se proceder à sua reconstrução parcial. No decorrer destes trabalhos foi desenterrado o limite inferior da muralha junto à torre Sul, e descobriu-se que a muralha que tinha sido restaurada na Década de 1980 estava deslocada do pano medieval, em direcção ao exterior, não tendo sido respeitadas as plantas e as técnicas construtivas primitivas. Em 2005 foram feitos trabalhos de acompanhamento arqueológico, na sequência da adjudicação da obra Estabilização e contenção do talude sob as fundações das muralhas do castelo de Aljezur pelo Instituto Português do Património Arquitectónico. Foram encontrados vestígios de um possível pavimento, que pode indicar a presença de níveis habitacionais fora das muralhas, e um interior habitacional com lareira onde foram recolhidos dois Dirhams de prata, pelo que terá sido ocupado durante o período islâmico. Foram igualmente encontrados vestígios de um derrube de blocos argamassados, possivelmente da fase final do domínio muçulmano antes da reconquista. Em 2008 foi intervencionada a zona da entrada do castelo, de forma a minimizar os impactos do programa de Reabilitação das Estruturas Arqueológicas do Castelo de Aljezur, e ao mesmo tempo identificar as diversas épocas de ocupação naquele local.

Característicasseta_baixoseta_cima

A fortaleza possui uma planta poligonal de formato irregular, aproximadamente octogonal, que foi escolhida de forma a melhor se adaptar à topografia do local onde se encontra. As muralhas, de forma rectilínea, têm cerca de 1,5 m de espessura e 3 a 5 m de altura, e são pontoadas por duas torres maciças, situadas em pontos extremos opostos do castelo, a Norte e Sul. Originalmente, tanto as muralhas como as torres poderiam ter possuído ameias, sendo o acesso ao topo das torres feito através de escadas em madeira. Também foram encontrados vestígios de uma Barbacã na vertente Noroeste, que teria menos de um metro de altura, e de afloramentos de muralha no lado Oeste. A torre Norte, com cerca de 5 m de diâmetro e 9 m de altura a partir do exterior, tinha uma planta circular, e servia para guardar a única entrada no castelo, no lado Nordeste. A outra torre apresentava uma forma quadrangular, com 4,98 por 4,40 m, e uma altura e uma cota de implantação semelhantes à da torre circular. No lado Noroeste do castelo está a única abertura nas muralhas, funcionando como entrada. Nesta zona foi instalada uma placa de pedra relativa às Comemorações dos Centenários, e da intervenção que foi feita no castelo nessa altura.

As lendas de Marearesseta_baixoseta_cima

A reconquista do castelo no Século XIII ficou ligada a uma lenda local, que relata que uma moura terá apoiado os cristãos por amor.

Consciente da posição privilegiada do castelo e da cerrada vigilância mantida pelos mouros, D. Paio Peres Correia, despachou alguns batedores portugueses a sondar o terreno e os hábitos das gentes da povoação, a fim de delinear o seu plano de assalto. Em campo, estes conseguiram aliciar uma moura de rara beleza, Maria Aires, que lhes informou a prática de um antigo costume dos habitantes da região, de se banharem na praia da Amoreira na madrugada do dia 24 de Junho.

De posse desse dado, o D. Paio dispôs os seus homens de modo a que, na noite de 23 para 24 daquele mês, se ocultassem no vale vizinho ao castelo, hoje conhecido como vale de D. Sancho, certamente em homenagem ao soberano à época, Sancho II de Portugal. Camuflados com a vegetação, aguardaram o movimento dos mouros rumo à praia, na madrugada. Tão logo este se iniciou, os cristãos, ainda a coberto pela escuridão, encetaram a aproximação final para o assalto à povoação e castelo desguarnecidos. Neste momento, uma menina, neta de uma velha que havia ficado para trás na povoação, percebendo a movimentação incomum fora de portas, correu a avisar a avó que as moitas estavam a andar. A velha senhora explicava à neta os efeitos da brisa sobre a vegetação quando de surpresa os cristãos irromperam pelas portas, dominando a senhora que ainda intentou dar o alarme, fazendo soar um sino na torre da cisterna. Senhores do terreno, os portugueses deram então o alarme, atraindo os defensores para uma armadilha mortal, no interior do recinto.

Com a povoação conquistada para as armas de Portugal, D. Paio, afirma-se que sensibilizado pelos encantos da bela Maria Aires, poupou-lhe a vida e a honra, fazendo-lhe erguer uma casa em local próximo da povoação que ainda hoje, em sua memória, se chama Mareares.

Acontecimentos da época

827 - Início da conquista da Sicília pelos Sarracenos.

 - Luís I, o Piedoso , julgado, condenado e deposto pelos filhos.

839 - Expedição de Afonso II das Astúrias à região de Viseu.

987 - Revolta do conde Gonçalo Mendes que adota o título de Grand-Duque de Portucal e revolta-se contra Bermudo II e é derrotado na batalha.

1147 - Início da Segunda Cruzada.

 - Tomada de Santarém por D. Afonso Henriques.

 - Vinda do porto inglês de Dartmouth, entra na barra do Douro uma frota de 200 velas com cruzados.

 - Por proposta de D. Afonso Henriques, a armada de cruzados ingleses inicia o Cerco de Lisboa. Após 5 meses, Lisboa conquistada aos mouros pelas tropas de D. Afonso Henriques.

1148 - Alenquer foi conquistada aos mouros no dia 24 de Junho.

 - Restauração das dioceses de Lisboa, Viseu e Lamego por D. Afonso Henriques.

1158 - A Libra Esterlina torna-se na moeda de Inglaterra.

 - 24 de Junho - Conquista de Alcácer do Sal.

 - 22 de Maio - Em Sahagún, Fernando II de Leão e Sancho III de Castela concordam em unir os seus esforços para submeter D. Afonso Henriques.

1159 - Doação do Castelo de Cera a Gualdim Pais.

 - 22 de Dezembro - D. Afonso Henriques encontra-se na localidade de Santa Maria de Palo com o rei Fernando II de Leão, para resolver o problema das demarcações fronteiriças das reconquistas portuguesas e leoninas.

1160 - O Castelo de Tomar doado à Ordem dos Templários.

 - Conquista de Évora e de Beja.

 - Início da edificação da Sé de Lisboa.

1161 - Évora, Beja e Alcácer do Sal caem em poder dos Mouros.

1162 - D. Afonso Henriques reconquista Beja, que havia caído em poder dos Mouros.

1163 - Ocupação de Salamanca por D. Afonso Henriques.

1165 - Reconquista de Évora.

1166 - Tomada de Serpa e Moura por D. Afonso Henriques.

1185 - Sancho I sucede a D. Afonso Henriques como rei de Portugal.

 - Construção da Sé de Évora.

1187 - 2 de Outubro - Saladino conquista Jerusalém aos Cruzados; em resposta, o Papa Gregório VIII propõe o lançamento da Terceira Cruzada.

 - Sancho I concede foral a Viseu, Avô, Folgosinho, Bragança e Penarroias.

1189 - Sancho I passa a intitular-se Rei de Portugal e dos Algarves.

1190 - A Terceira Cruzada, comandada por Ricardo Coração de Leão e Filipe Augusto, abençoada pelo papa Gregório VIII, parte com a missão de reconquistar Jerusalém.

 - Fundação do primeiro Castelo do Louvre.

1191 - 12 de Julho - Terceira Cruzada: Os cruzados conquistam Acre, na Palestina.

 - 22 de Agosto - Terceira Cruzada: O rei Ricardo Coração de Leão manda matar 2700 prisioneiros muçulmanos.

1194 - Inti Yupanqui funda o Império Inca (Peru).

1196 - Sancho I celebra um tratado de aliança com Afonso VIII de Castela, Afonso II de Aragão e o rei de Navarra. Trava-se uma guerra entre os reinos de Portugal e Leão, concedendo o papa ao monarca português, e aos seus exércitos, as mesmas indulgências outorgadas pela Santa Sé aos que combatiam os infiéis.

1198 - Combates fronteiriços, contra os Leoneses, nas regiões da Beira Alta e Trás-os-Montes, onde perderam a vida alguns membros das mais importantes famílias da nobreza portuguesa.

1199 - D. Sancho I redige o foral que dá origem à Guarda, cidade portuguesa, em 27 de Novembro.