Castelo de Moura

Freguesia de Moura

Castelo de Moura
Distrito Beja
Concelho Moura
Freguesia São João Batista (Ext.)
Área 93,13 km²
Habitantes 4 075 (2011)
Densidade 43,7 hab./km²
Gentílico Mourense
Construção 1315 ?
Reinado ( )
Estilo ( )
Conservação ( )

Durante a ocupação romana da Península Ibérica, a cidade de Moura chamar-se-ia Aruci Novum. As invasões muçulmanas alteraram o seu nome para Al-Manijah. A designação atual de Moura surge ligada à Lenda da Moura Salúquia.

O castelo de Moura, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1944, está implantado no ponto mais elevado da cidade e a sua ocupação remonta, pelo menos, à Idade do Ferro. Existem vestígios da fortificação do período Islâmico e do período Cristão, testemunhos das intensas disputas pelo controlo do território. O domínio cristão efetivou-se em 1232 e, a partir de 1295, Moura é definitivamente conquistada. É com D. Dinis que Moura recebe a sua primeira Carta de Foral (1295) e Carta de Feira (1302) e, posteriormente, D. Manuel concede nova carta de foral, em 1512; nesse mesmo século recebe, por D. João III, o título de Notável Vila de Moura.

A sua importância geoestratégica no período da Reconquista Cristã e em épocas posteriores é inequívoca, tendo em conta o facto de ter sido aqui que se construiu o primeiro convento da Ordem dos Carmelitas em Portugal e em toda a Península Ibérica. O convento do Carmo encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1944, sendo que a Igreja Matriz de São João Batista, construída a mando de D. Manuel no início do século XVI, está classificada como Monumento Nacional desde 1932.

A proximidade com a fronteira espanhola obrigava a um controlo apertado do território em redor do castelo, daí a necessidade de se construírem torres de vigia ou atalaias. Em Moura estão inventariadas seis, sendo que a Atalaia Magra está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1986.

A existência de duas nascentes de água permanente no interior do castelo, que ainda hoje abastecem duas fontes (Três Bicas e Santa Comba), permitiu que surgissem, na transição do século XIX para o século XX, uma unidade termal e a fábrica da Água Castello, unidade fabril que se manteve no espaço do castelo até ao final da década de 30.

Moura foi elevada a cidade a 1 de fevereiro de 1988. O feriado municipal celebra-se a 24 de Junho.

Foi em Moura que viveu Tiago Moura de Portugal, uma personagem importantíssima na história da cidade, visto que liderou o exército que expulsou definitivamente os espanhóis aquando da sua ocupação.

Antecedentes

Brasão de Moura

Acredita-se que a primitiva ocupação humana deste sítio remonte a um castro da Idade do Ferro, sucessivamente ocupado pelos Romanos, pelos Visigodos e pelos Muçulmanos, quando alcançou expressão regional como capital da província de Al-Manijah, conforme os diversos testemunhos arqueológicos atualmente recolhidos ao Museu Municipal de Moura. A construção da fortificação Muçulmana, em taipa, datará dos meados do século XI ao início do século XII, da qual nos chegaram alguns vestígios, como a chamada Torre da Salúquia.

O castelo medievalseta_baixoseta_cima

À época da Reconquista cristã da Península Ibérica, a povoação foi inicialmente conquistada, em 1166, pelos irmãos Pedro e Álvaro Rodrigues e perdida quase de seguida. Foi, ainda em 1166, conquistada por Geraldo Sem Pavor, tendo depois disso, e até ao reinado de D. Dinis, sido perdida e reconquistada mais quatro vezes.

Recebeu Carta de Foral outorgada por D. Afonso Henriques (1112-1185) em 1171. O foral da vila seria confirmado, em 1217, por D. Afonso II (1211-1223). O definitivo domínio cristão da região, entretanto, só seria alcançado a partir de 1232.

Sob o reinado de D. Dinis (1279-1325), a povoação recebeu nova Carta de Foral (9 de Dezembro de 1295, privilégio estendido à comunidade moura em 1296 e renovado em 1315), procedendo-se a reconstrução do castelo, aproveitando-se as antigas muralhas muçulmanas. Para esse fim a Ordem de Avis fez doação de um terço das rendas das igrejas de Moura e Serpa para "refazimento e mantimento dos alcáceres dos ditos castellos" (1320). Para complemento das obras empreendidas nos castelos de Moura e de Serpa, foi erguida neste período uma linha de torres de vigilância cobrindo a raia, das quais sobrevive a Atalaia da Cabeça Magra.

Na segunda metade do século XIV, sob o reinado de D. Fernando (1367-1383), iniciou-se uma segunda cerca amuralhada, envolvendo os novos limites da povoação, aumentados. Quando de seu falecimento, abrindo-se a crise de 1383-1385, a vila e seu castelo tomaram partido por D. Beatriz e João I de Castela até à época da batalha de Aljubarrota.

Sob o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a vila e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (Livro das Fortalezas, c. 1509), com destaque para a Torre de Menagem rodeada por muralha torreada, onde se rasga o portão em arco apontado, enquadrado por alfiz e heráldica. Em 1512, o soberano outorgou o Foral Novo à vila. Por essa época seriam iniciadas obras de modernização das suas defesas com risco de Francisco de Arruda. Mais tarde, ainda neste período, seria iniciado, por D. Ângela de Moura, em 1562, o convento feminino de São Domingos, no interior da cerca, sobre as fundações da antiga mesquita.

Da Guerra da Restauração aos nossos diasseta_baixoseta_cima

No contexto da Guerra da Restauração da independência portuguesa, o Conselho de Guerra de D. João IV (1640-1656), determinou a modernização e reforço da antiga fortificação, dada a sua posição estratégica na fronteira com a Espanha. Desse modo, com projeto a cargo de Nicolau de Langres, foi erguida uma linha abaluartada, envolvente da povoação, reforçada por revelins. É ainda, deste período, o chamado Edifício dos Quartéis, originalmente um conjunto de casernas integrado pela Capela do Senhor Jesus dos Quartéis em uma das extremidades.

Ocupada durante a Guerra de Sucessão da Espanha, fizeram-se explodir as muralhas de Moura (danificando parte da Torre da Salúquia), na seqüência da retirada das forças espanholas sob o comando do duque de Ossuna (1707). Nesse século sofreu novos danos por conta do terramoto de 1755.

Desguarnecida a partir de 1805, entre 1809 e 1826 os antigos muros de taipa do castelo foram usados como matéria prima para o fabrico de salitre. Posteriormente, em 1850, José Pimenta Calça fez demolir o troço Oeste do muro da alcáçova, para dar lugar ao lagar de Vista Alegre.

O terreno do Castelo de Moura e o próprio castelo foi comprado em 1915 por Tiago Romano. As ruínas do Convento das freiras Dominicanas e Igreja anexa encontram-se classificados como Imóvel de Interesse Público por Decreto publicado em 27 de Março de 1944. Ao final da década de 1950 iniciou-se a intervenção do poder público, através da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), estendendo-se pelas duas décadas seguintes. Em 1981 foram procedidas sondagens arqueológicas no interior do perímetro do conjunto, tendo se procedido a trabalhos de reparo e recuperação em 1982 e entre 1985 e 1986. Mais recentemente, em 2002, foram procedidos trabalhos de valorização paisagística do entorno do castelo.

Recomenda-se a visita ao Museu Árabe, erguido em torno do antigo poço que abastecia o castelo.

Característicasseta_baixoseta_cima

Sobre uma elevação calcário, na cota de 184 metros acima do nível do mar, o castelo compõe-se por alcáçova e barbacã de planta ovalada, com as dimensões máximas de 200 x 100 metros. Em seu interior localizam-se as ruínas do Convento de Freiras Dominicanas de Nossa Senhora da Assunção (abandonado desde 1875) e da igreja anexa, erguidos a partir de 1562 no local da primitiva Igreja Matriz, junto à entrada da alcáçova, para onde se volta a fachada da igreja. Esta é de planta rectangular e nave única, nela se destacando o túmulo, em estilo manuelino, de Pedro e Álvaro Rodrigues, supostos conquistadores de Moura aos muçulmanos em 1166, e protagonistas da lenda de fundação da vila.

A alcáçova é acessada por uma porta em cotovelo, a Sudeste. O conjunto é dominado pela torre de menagem, dionisina, de planta quadrada. Ladeando-a, identificamos a base maciça de outra torre, menor, e ainda um cubelo circular, na junção com a muralha exterior. Tanto a torre de menagem, quanto o cubelo apresentam merlões prismáticos piramidais. Em alguns trechos da muralha ainda subsiste o adarve. A cerca externa é reforçada por torres de planta quadrangular e circular. No século XIX uma das torres foi adaptada a Torre do Relógio.

A torre de menagem, em estilo gótico, maciça na parte inferior, tem no segundo pavimento uma sala de planta octogonal (Sala dos Alcaides) coberta por abóbada em cruzaria de ogivas, assente em oito colunas de fuste delgado.

A linha abaluartada do século XVII apresenta planta no formato estrelado, com muro rampante (em alambor), originalmente cercado por fosso, hoje quase que totalmente encoberto.

Lendasseta_baixoseta_cima

A lenda da moura Salúquia

A lenda remonta ao tempo em que a povoação foi conquistada aos mouros pelos cristãos, tendo por testemunho a antiga torre junto do atual Jardim Dr. Santiago e perpetuada no brasão de armas da vila. A bela Salúquia era filha do governador muçulmano da região, Abu Hassan e estava noiva de um jovem que por ele fora nomeado alcaide do castelo. Dia após dia, debruçada do alto de uma das torres, aguardava ansiosamente a chegada do seu noivo, que partira para combater os cristãos. Estes, porém, avançando à conquista da povoação fizeram uma emboscada ao jovem mouro e mataram-no, assim como aos seus companheiros. Vestiram os seus trajes e com este ardil conseguiram que lhes abrissem as portas do castelo. Percebendo o embuste, a bela moura Salúquia, preferindo a morte a ser escrava e cativa dos cristãos, atirou-se da torre, acompanhando na morte o amado. E assim se explica a origem do nome Moura.

Acontecimentos da época

1302 - 26 de setembro — Os templários perdem a ilha de Ruad que se torna assim o último reduto dos cruzados na Terra Santa.

1305 - Os templários são ameaçados na França pelo rei Filipe, o Belo.

1307 - As actividades de Portugal no chamado "Mar Oceano" iniciaram-se com o rei D. Dinis I de Portugal, a partir da nomeação do Almirante-mor, Nuno Fernandes Cogominho, sucedido pela contratação do Genovês Manuel Pezagno), a 1 de Fevereiro de 1317, para o cargo. Com efeito, os portulanos Genoveses conhecidos até essa data, não fornecem qualquer indicação sobre ilhas no Mar Oceano.

 - Fundação do Estudo Geral, d. 1537 Universidade de Coimbra.

1308 - 9 de Março - Primeiro foral à Póvoa de Varzim por D. Dinis de Portugal que manda instalar uma "póvoa" nas suas terras em Varazim.
 - A Universidade de Coimbra foi instalada em Coimbra, no Paço Real da Alcáçova.

1309 - 12 de setembro — casamento do infante D. Afonso, futuro rei D. Afonso IV de Portugal com Beatriz de Castela.

1319 - 14 de Março - instituída canonicamente Ordem da Milícia de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou Ordem de Cristo, fundada pela bula "Ad ea ex quibus" Papa João XXII.

1310 - 6 de Abril - Os Escoceses reafirmam a sua independência ao assinar a Declaração de Arbroath.

1323 - D. Dinis confronta-se com D. Afonso IV no que se passou a designar como Batalha de Alvalade, que seria interrompida antes do seu início pela Rainha Santa Isabel

1336 - 6 de Fevereiro - Casamento por procuração do herdeiro do trono português D. Pedro, o Justiceiro, com Constança Manuel.

1337 - A Guerra dos Cem Anos foi deflagrada quando o trono francês esteve carente de um herdeiro direto.

1344 - Lisboa e grande parte do resto de Portugal é atingida por um terramoto de grande intensidade, de que existem referências escritas da época a mencionar grandes estragos.

1347 - A peste negra surge na Europa, proveniente da colónia genovesa de Teodósia, na Crimeia. Os navios genoveses levaram a epidemia primeiro para Constantinopla (maio) e Messina em setembro. Em novembro Génova e Marselha já tinham sido atingidas.

1356 - Lisboa e toda a zona limítrofe é atingida por um terremoto.

1357 - O sudário de Turim é exibido pela primeira vez.
 - Pedro I torna-se rei de Portugal.

1360 - 12 de junho — Declaração de Cantanhede, na qual o rei Pedro I de Portugal declara ter casado com Inês de Castro.

1364 - O futuro rei João I de Portugal é feito Grão Mestre da Ordem de Aviz, quando tinha 6 anos.

1367 - 18 de janeiro - Fernando I de Portugal sucede a seu pai Pedro I de Portugal.

1369 - Coroação do rei Fernando I de Portugal.

1372 - 5 de janeiro - O rei Fernando I de Portugal faz doação da Vila de Torres Vedras a Dona Leonor Teles de Meneses com quem vai casar a 15 de maio no Mosteiro de Leça do Bailio.